terça-feira, 15 de agosto de 2017

VIVA A DIFERENÇA!


Tempos difíceis, os atuais, não? Estamos escrevendo uma página assustadora da nossa história. A sociedade brasileira esta protagonizando um dantesco espetáculo de intolerância, ódio e preconceito que se alastra país afora - e rede social adentro - feito rastilho de pólvora. E o grande catalisador destas ações e reações despropositadas é aquilo que de mais rico e bonito possui o ser humano: as suas diferenças.

Aquilo que faz do ser social, um ser único, do ser coletivo, um ser individual, está pondo-nos em guerra com nós mesmos. A sociedade neofascista que estamos construindo nos está colocando em violento antagonismo com tudo aquilo que não somos nós, com o outro, com o alheio, com o diferente, em síntese. O confronto é de pessoas, não mais de ideias, opiniões ou pontos de vista. Então, o diferente é declarado inimigo mortal.

E o patológico deste comportamento é as pessoas acreditarem piamente que o diferente não é apenas diferente, é inferior, e, em assim o sendo, merece o meu desprezo, a minha repulsa e até mesmo o meu mais feroz ataque – o fascismo na mais pura essência. Esse comportamento doentio, cuja natureza remete-nos às mais delirantes aspirações hitlerianas, põe em pé de guerra brancos e negros, ricos e pobres, magros e gordos, homos e heteros, mulheres e homens, nortistas e sulistas, estrangeiros e nativos, conservadores e progressistas, católicos e protestantes, cegando-nos para o mais importante: somos todos da mesma raça, a raça humana.

E qual seria a causa deste comportamento que se alastra com a desenvoltura de uma epidemia? Lamentavelmente, eu também não tenho a resposta, mas desconfio de que ele tenha relação direta com um sentimento que é devastador para a alma humana: o sentimento de inferioridade. Talvez a fúria com que o racista, o homofóbico, e o xenófobo agridem o que se lhes apresenta diferente não seja mais do que uma tentativa desesperada de esquivar-se de uma condição – irreal, diga-se – de inferioridade que a própria sociedade lhe impôs. E o parâmetro de distinção sempre é o outro, supostamente num patamar mais baixo, crê o agressor. Se sou branco, meu parâmetro de distinção é o negro, e eu o inferiorizo para que a cor da minha pele denote a supremacia da minha raça. Mas, ao mesmo tempo em que sou branco, sou pobre, então a pequena burguesia me humilha e me rechaça, não sem ser, ela mesma, fustigada pelo aristocrata, que, por sua vez, é homossexual e igualmente sofre na carne os efeitos do preconceito, embora o pratique também no afã de libertar-se de um sentimento de inferioridade que o deteriora.

Curiosamente, aqueles que não suportam o diferente, reverenciam a diferença, que, em suma, é o artifício que os faz sentirem-se superiores. Portanto, se o diferente provoca-me ojeriza, a diferença é-me cara, pois é ela é o álibi perfeito para ódio que dedico ao outro. O fetiche reside em cultivar as diferenças, perpetuá-las e exaltá-las ao grau máximo, para que o parâmetro de distinção perdure e siga avalizando condutas arrogantes, truculentas e até mesmo violentas contra os seres humanos supostamente inferiores por sua condição social, étnica, sexual, política, religiosa, etc. Uma simples ameaça de igualdade petrifica quem se vale das diferenças para arrogar-se superior.

Oxalá, num futuro próximo, saibamos conviver com as diferenças e compreendamos que são elas a força motriz do universo. Sem as diferenças, não há movimento, e sem movimento, não há vida.

Sei lá se meu devaneio faz algum sentido ou é apenas aquilo a que se propôs ser, um devaneio. Mas, por ora, penso por aí. Quiçá, amanhã, mudarei de ideia. Minhas opiniões e impressões não são cláusulas pétreas, graças a deus! Não chego a ser uma metamorfose ambulante, mas não tenho medo de mudar meu ponto de vista, se me convém.

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