terça-feira, 20 de setembro de 2016

BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO?


Bandido bom é bandido morto? Errado! Um bandido, muito antes de ser bandido, é um ser humano, assim como nós, supostos cidadãos “de bem”, que proferimos tal desatino com a arrogância típica dos fascistas. O “bandido” de que falo, fruto da exclusão social e da marginalização institucional, é um cidadão sem cidadania, que lhe foi solenemente solapada já antes da sua concepção. Ele é vítima de uma sociedade doente e de um estado burguês que lhe recusam os direitos humanos mais elementares, tais como educação de qualidade, moradia digna, saúde e alimentação, além de respeito e afeto, cuja falta é capaz de embrutecer a mais terna das criaturas.

O bandido é um subproduto da desigualdade social, da concentração de riqueza e do preconceito, elementos constitutivos do sistema capitalista. Ele é o anti-herói que, diante da total inexistência de perspectivas, recusa as condições sociais humilhantes e desumanas que lhe são impostas e reage, de forma primitiva e desesperada, contra a violência de que é vítima cotidianamente, num ato instintivo de legítima defesa, conquanto sabidamente equivocado. Subjaz, na ação deste bandido, um anseio inconsciente de fazer justiça social com as próprias mãos.

O que podemos esperar de um ser invisível, ignorado pela sociedade, compelido alucinadamente ao consumo de supérfluos que lhe são inacessíveis, mas que, sem os quais – assim afirmam os publicitários – seu valor no corpo social jamais será reconhecido? Qual a perspectiva real de quem é condenado sumariamente pelos olhares inquisidores das ditas pessoas “de bem” em razão das roupas que veste, da maneira simples de falar, do bairro onde vive ou do sentimento de inferioridade que pauta sua vida? Que sonhos são permitidos a esses bandidos sonhar quando a realidade que os engole é um verdadeiro holocausto pós-moderno? O que podemos esperar destes bandidos além de uma postura reativa e, no mais das vezes, violenta, contra quem os massacra na carne e na alma?

Talvez o bandido bom sejamos nós, que, sabe-se lá por que razão ou privilégio, nascemos com saúde, em famílias estruturadas, tivemos acesso a uma educação de qualidade, vivemos em condições dignas de moradia, conquistamos bons empregos pelos próprios méritos, fomos criados cercados de carinho, afeto e compreensão. Em suma, legítimos cidadãos “de bem”, mas que não hesitam ser “do mal”, às vezes, quando apresentam como solução mágica para a violência a simples produção de mais violência contra quem já é violentado desde sempre.

Talvez sejamos o bandido que uma vida digna evitou.

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